O cristão e a Lei Áurea: Entre a liberdade e a escravidão – Parte VII – Lei Moral e Lei de Ordenanças

(Continuação da parte VI)

O cristão e a Lei Áurea: Entre a liberdade e a escravidão – Parte VII – Lei Moral e Lei de Ordenanças

a) Lei moral e Lei de ordenanças – A Lei Mosaica geralmente é dividida em três partes: Lei Moral (10 mandamentos), Lei Civil (regula a sociedade e detalham os 10 mandamentos) e Lei Cerimonial (religiosa). A Bíblia, no entanto, não faz qualquer divisão, sempre a tratando como ‘A Lei’. Assim como qualquer constituição de leis, a Lei Mosaica é um compêndio de leis que possui caráter moral, já que toda lei pressupõe obediência. Veja aqui os 613 mandamentos da Lei de Moisés.

Todos concordam que as Leis Civil e Cerimonial se encerraram em Cristo, mas nem todos concordam que o mesmo tenha ocorrido com a Lei Moral. Para alguns, os 10 mandamentos continuam em vigor (inclusive a guarda do sábado); para outros, somente 9 mandamentos continuam valendo (o sábado foi abolido, substituído pelo dia de domingo, chamado de Dia do Senhor – o dia da ressurreição); e para outros, toda a Lei Moral também se encerra na cruz. Afinal de contas, o que significa de fato o sacrifício único, perfeito e eficaz de Jesus na cruz do calvário?

O cristão e a Lei Áurea: Entre a liberdade e a escravidão – Parte VI – Guardar o sábado ou o domingo?

(Continuação da parte V)

O cristão e a Lei Áurea: Entre a liberdade e a escravidão – Parte VI – Guardar o sábado ou o domingo?

a) A santificação e guarda do sábado – A Lei previa a guarda do sábado PARA OS ISRAELITAS, que se iniciava ao anoitecer da sexta-feira indo até ao anoitecer do sábado (o sábado judaico), portanto diferente da contagem feita em nosso calendário e relógio, cujo dia se inicia a 00:00h (zero hora, ou meia-noite). Os defensores da guarda do sábado (denominados sabatistas) alegam que tal ordenança é anterior a Lei Mosaica, tendo sido estabelecida por Deus na criação do mundo, conforme descrito em Gênesis 2. Entretanto, quando analisamos os argumentos dos sabatistas, verificamos que recorrem à Lei para mostrar como uma pessoa deve se comportar durante o sábado, usando as instruções da Lei Mosaica para dizer o que se pode ou não se pode fazer. Ou seja, ainda que defendam a instituição da guarda do sábado como anterior à Lei, é na Lei que fundamentam sua observância prática (o que pode ou não fazer). A posição oficial da IASD (Igreja Adventista do Sétimo Dia) pode ser verificada aqui .

b) A santificação e guarda do domingo – A grande maioria dos cristãos adotou o domingo como o ‘dia do descanso’ (também chamado de ‘sábado cristão’), entendendo que a guarda do sábado é ordenança da Lei que se encerra em Cristo, e que a igreja primitiva começara a se reunir no primeiro dia da semana, o domingo, o dia da ressurreição, conforme Marcos 16:9, Atos 20:7, 1Coríntios 16:2 e Apocalipse 1:10. Contudo, ao longo da história se percebe que o domingo acabou se transformando de fato no ‘sábado cristão’, um dia cheio de formalismos e obrigações começando pela obrigatoriedade de se comparecer na ‘casa de Deus’, a igreja de pedra, onde, na prática, se diz habitar Deus, sendo considerado ‘pecado capital’ deixar de ali comparecer (quando digo ‘pecado capital’ me refiro à prática bastante comum de se excluir do rol de membros o ausente contumaz). O domingo se transformou no dia de ‘culto ao Senhor’, e este culto foi sendo revestido de uma série de formalidades, ordenanças, regras, doutrinas, usos e costumes tão escravizantes quanto o sábado judaico, já que deixar de cumprir qualquer dos preceitos estabelecidos caracterizaria desobediência à lei denominacional.

O cristão e a Lei Áurea: Entre a liberdade e a escravidão – Parte V – As bênçãos e maldições de Malaquias 3 e Deuteronômio 28

(Continuação da parte IV)

O cristão e a Lei Áurea: Entre a liberdade e a escravidão – Parte V – As bênçãos e maldições de Malaquias 3 e Deuteronômio 28

a) Malaquias capítulo 3: O dízimo e o devorador – “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação [ISRAEL]. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro [TEMPLO EM JERUSALÉM], para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra [PLANTAÇÕES]; e a vossa vide no campo [VIDEIRA] não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos” (Malaquias 3:8-11).

Diante de tudo o que foi dito anteriormente, parece bastante claro que o texto de Malaquias capítulo 3 está falando de dízimos COMO ORDENANÇA DA LEI – ordenança dada AOS ISRAELITAS (JUDEUS) -, coisa facilmente comprovada verificando os destinatários do livro do profeta no cap. 1:1: “Uma advertência: a palavra do Senhor contra Israel, por meio de Malaquias”; e também no cap. 3:4: “Então as ofertas de Judá e de Jerusalém serão agradáveis ao Senhor, como nos dias passados, como nos tempos antigos”. Ora, as cartas do apóstolo Paulo foram endereçadas às igrejas gentílicas, e isso é facilmente compreendido nos dois primeiros versículos de cada carta onde aparecem os destinatários. Se Paulo escreveu para as igrejas gentílicas, o que judeus-não-cristãos (não convertidos a Cristo) em Judá e em Jerusalém teriam a haver com ela? Nada. Absolutamente nada. Ora, ora, se o livro de Malaquias foi endereçado à nação de Israel, e a Judá e Jerusalém – a judeus que viveram antes de Jesus e ANTES DA NOVA ALIANÇA ter sido estabelecida -, o que a igreja gentílica teria a haver com ela? Nada. Absolutamente nada. E isso pode ser facilmente compreendido em Hebreus 7:12: “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei”. Ora, se houve mudança da Lei, porque ainda há quem insista pregar a ANTIGA LEI de Malaquias 3?

Vejam que interessante: A mensagem do profeta Malaquias sequer serve para os judeus atuais, pois o templo foi destruído e os serviços religiosos interrompidos. E serviria para a igreja gentílica? Que contraditório!

O cristão e a Lei Áurea: Entre a liberdade e a escravidão – Parte IV – Dízimo e ofertas no Novo Testamento

(Continuação da parte III)

O cristão e a Lei Áurea: Entre a liberdade e a escravidão – Parte IV – Dízimo e ofertas no Novo Testamento

a) O dízimo no Novo Testamento da Bíblia – A história da igreja tem seu início no Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo foi enviado dos céus e desceu sobre os irmãos reunidos no Cenáculo (Atos 2). Biblicamente, dentro do cânon do Novo Testamento, a história da igreja se inicia em Atos e termina em Apocalipse. Com exceção da Carta aos Hebreus (que foi endereçada aos judeus, cuja finalidade é demonstrar a superioridade do sacerdócio de Cristo e do novo pacto (Nova Aliança) sobre o antigo pacto (Antiga Aliança) discorrendo sobre a Lei), DO LIVRO DE ATOS ATÉ O LIVRO DE APOCALIPSE NÃO ENCONTRAMOS A PALAVRA ‘DÍZIMO’. Encontramos, sim, alguns textos que falam sobre doação e recolhimento de dinheiro, mas sempre em forma de OFERTAS.

b) Como a igreja primitiva contribuía financeiramente – Segundo a Lei, os dízimos DOS JUDEUS eram entregues no templo em Jerusalém e serviam para o sustento da tribo de Levi. O templo foi destruído no ano 70 d.C., sendo que os apóstolos Pedro e Paulo morreram por volta de 64 e 67 d.C. (segundo a tradição), portanto antes do templo ter sido destruído. A igreja teve início no Dia de Pentecostes, 50 dias após a páscoa e 10 dias após Jesus ter subido aos céus, quando o Espírito Santo desceu sobre os irmãos reunidos no Cenáculo. Pelo menos durante algum tempo os apóstolos e outros irmãos judeus que estavam em Jerusalém continuaram a frequentar o templo, conforme verificamos em Atos 2:46; 3:1; 5:20,21,42. Isso não significa que eles tenham continuado com as práticas da Lei (como os sacrifícios, por exemplo), mas demonstra que em certos aspectos a cultura judaica, que é profundamente religiosa e nacionalista, ainda estava arraigada neles. Esse comportamento judaico-legalista fica muito claro nas cartas de Paulo, que combate veementemente a judaização do evangelho. O próprio apóstolo Pedro relata a experiência da visão do lençol que descia do céu cheio de animais impuros, SEGUNDO A LEI, e que ele se recusava a comer POR OBEDIÊNCIA À LEI (Atos 11). Num outro momento, Pedro seria repreendido por Paulo por comportar-se como judeu CUMPRIDOR DA LEI, recusando-se a comer junto com gentios, tendo se juntado a ele, neste COMPORTAMENTO REPROVÁVEL, outros judeus cristãos e até Barnabé (Gálatas 2). Foi comentando este episódio que Paulo escreveu um dos argumentos mais esclarecedores do Novo Testamento: “Quando vi que não estavam andando de acordo com a verdade do evangelho, declarei a Pedro, diante de todos: “Você é judeu, mas vive como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar gentios a viverem como judeus? [OBRIGÁ-LOS A CUMPRIREM A LEI] “Nós, judeus de nascimento e não ‘gentios pecadores’, sabemos que ninguém é justificado pela prática da lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pela prática da lei, porque pela prática da lei ninguém será justificado” (Gálatas 2:14-16). Assim, os irmãos judeus se reuniam ‘de casa em casa’, mas continuaram a frequentar o templo no horário das orações (SEGUNDO A LEI), se reunindo em algum dos pórticos com a finalidade de falar ao povo sobre Jesus (Atos 5:20,21,42), visto que o templo era o principal lugar de ajuntamento dos judeus.

Bíblia Sagrada: Regra de fé e de prática?

Toda a Bíblia é tida como regra de fé e prática. De fato toda ela é regra de fé. Mas será que a Igreja não deveria ter como regra de prática somente o Novo Testamento?

Ora, se alguém tem o Antigo Testamento como regra de prática, ainda está debaixo da Antiga Aliança.